segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Segredo do Anel - Livro


O que normalmente se aceita como História não é o que de fato aconteceu, mas o que foi escrito. E o relato histórico é feito pelo vencedor, um homem comprometido politicamente, quase sempre de uma época em que as mulheres valiam menos que o gado.

A jornalista, professora e escritora Maureen Paschal se pergunta como seria o mundo se tivesse sido possível para Maria Antonieta, Joana d’Arc, Lucrécia Bórgia, Maria Madalena e outras mulheres tomar as rédeas do destino, vencer suas guerras e contar a História sob seu ponto de vista. Na intenção de escrever um livro que faça justiça a tantas personalidades femininas difamadas por razões políticas ao longo dos milênios, Maureen corre o mundo em busca de documentos raros que contradigam a História oficial.

Pesquisadora séria que é, ela só leva em conta provas materiais, documentadas e autenticadas, desprezando lendas e crenças religiosas. Até o momento em que se torna impossível ignorar o fato de que há vozes que só ela escuta e pessoas que apenas ela vê. Maureen precisa deixar seu ceticismo de lado e seguir os sinais que lhe são apresentados.

A pesquisa de Maureen a leva a Jerusalém, onde ela pretende localizar documentos que a ajudem a escrever o capítulo que dedicará a Maria Madalena em seu livro.
E é perambulando pelas ruas da Cidade Santa que a pesquisadora se sente estranhamente atraída por um anel, exposto num antiquário. A pequena jóia ostenta um disco de cobre do tamanho de uma moeda, com nove pontos dispostos em torno de um círculo central. O padrão lhe parece familiar. Talvez seja uma representação dos nove planetas a gravitar em torno do Sol. Mas como o anel tem 1.500 anos, segundo o vendedor, ele é anterior à descoberta do sistema solar. Ou será que alguém, naquela época, teria condições de supor que a Terra não fosse o único planeta existente? E que existiam exatamente outros oito planetas por perto? E que o Sol era o centro de tudo isso? Impossível – é o que dizem os livros.

O fato é que Maureen não consegue tirar os olhos desse anel, que se ajusta ao seu dedo com a perfeição de uma jóia feita sob encomenda para ela. A peça não está à venda e, se estivesse, custaria muito caro. Mas o vendedor a dá de presente a Maureen, que fica desconfiada de tanta generosidade. Ele explica: "Esse anel me foi confiado até que encontrasse a mão certa, a mão para a qual ele foi feito. Descubro agora que é a sua mão. Não posso vendê-lo a você porque ele já é seu. Um dia, você vai compreender. Por enquanto, fique com o anel."

Mulheres difamadas pela História

Ao longo de sua pesquisa, Maureen encontra diversos documentos que comprovam a injusta difamação de que foram vítimas várias personalidades femininas ao longo dos tempos. Maria Antonieta, por exemplo: apesar de estar provada sua inocência em grande parte dos "crimes" que levaram à sua decapitação há quase 200 anos, ela é até hoje citada com desprezo nas explanações dos guias turísticos do Palácio de Versalhes.

Os livros de História poderiam mostrá-la como a menina austríaca de 14 anos isolada numa terra estrangeira que a rejeitava, maltratada pela família do marido e, depois, pelos súditos. Também poderiam retratá-la como a mãe que viu seus filhos morrerem. Ou a mulher angustiada em seu cativeiro, aguardando a morte enquanto lhe eram exibidos os membros decepados das pessoas que amava, todas assassinadas em seu nome. Mas preferem mostrá-la como uma rainha gananciosa e alienada que desdenhou da falta de pão para alimentar a população faminta, ao supostamente dizer "Então que comam brioches", frase que, na verdade, não é sua, mas de uma cortesã morta muitos anos antes de Maria Antonieta ter chegado à França para se casar com Luís XVI.

E o que dizer de Lucrecia Bórgia? Por ser filha ilegítima de um papa, Alexandre VI, e exercer influência sobre as decisões de seu pai, a ponto de dar ordens em sua ausência, ela acabou vítima das mais espúrias acusações. Os historiadores medievais a taxaram de assassina, prostituta e adepta do incesto, privando-a de seu verdadeiro lugar na História.

A trajetória de Joana d’Arc é mais conhecida. Queimada viva como feiticeira no século XV, ela permaneceu ignorada pela História até o século XIX e foi canonizada apenas em 1920. Suas invejáveis habilidades militares foram o motivo de ela ter despertado a ira dos poderosos. E as vozes divinas que ela dizia ouvir foram o pretexto para sua condenação. Vozes estas que são muito semelhantes às ouvidas por Maureen.

Ao ser publicado, o livro de Maureen, HERstory, atrai detratores e admiradores em igual medida no mundo acadêmico. Mas o que guiará seu destino – e o de toda a Humanidade – será uma fotografia sua, a que fora escolhida para aparecer na quarta-capa de seu livro. Tudo por causa do anel em seu dedo, que está bastante visível na foto.

O chamado

Maureen tem visões desde criança, mas aprendeu a usar o ceticismo como proteção, para manter a sanidade e fazer de conta que tudo aquilo era normal. O chamado, no entanto, fica cada vez mais intenso, até que ela não tenha mais como ignorá-lo e o atenda, enfim.

Na mística região de Languedoc, na França, o milionário escocês Lord Berenger Sinclair fica estarrecido ao ver Maureen usando o anel na contracapa do livro. Ele sabe exatamente do que se trata, muito mais do que ela. Aquele é o sinal de que Maureen é a mulher que ele e muitas outras pessoas esperavam, a mulher que chamará a atenção de toda a Humanidade para O Caminho, uma verdade que está por ser dita há mais de 2 mil anos, pronta para redefinir o papel das mulheres na História e estabelecer um paradigma totalmente novo para o pensamento e as crenças dos homens.

Como Maureen nunca ouviu falar de Sinclair, ela estranha quando é convidada por ele a visitá-lo em Paris no próximo solstício de verão. A escritora só atende ao inusitado pedido porque o excêntrico milionário diz ter uma informação preciosa sobre seu falecido pai. Acompanhada de seu primo, o padre Peter Healy, lingüista especializado em grego e latim, Maureen segue para a capital francesa no dia combinado. E é lá que ela tem suas visões mais perturbadoras. A primeira acontece no interior da catedral de Notre-Dame. Depois, numa visita ao Museu do Louvre, vozes dentro de sua cabeça a conduzem até os afrescos de Botticelli, que, junto com obras de Poussin, Ribera, El Greco, Cocteau, Moreau e vários outros mestres, espalhadas mundo afora, parecem querer dizer algo a Maureen.

É Lord Sinclair quem esclarece à sua convidada o que está acontecendo. Para Maureen, é muito difícil levar a sério o que não está documentado, o que não tem comprovação científica e não é palpável. Mas ela não tem a opção de rejeitar as vozes e as visões que a perturbam. Não pode, tampouco, ignorar a descoberta de que há significados ocultos em seu próprio nome e na data de seu nascimento. E quando Maureen encontrar numa tumba em Languedoc o mesmo padrão gráfico de seu anel – os nove pontos ao redor de um círculo –, tumba esta que foi pintada por Poussin num quadro que havia chamado sua atenção, ela estará completamente entregue aos desígnios desse estranho chamado.

Amor e ódio na mesma proporção

Maureen era aguardada por muitos, tanto pelos que querem segui-la rumo a O Caminho quanto pelos que querem destruí-la junto com sua misteriosa verdade. Lord Sinclair se apresenta como membro da Sociedade das Maçãs Azuis, que a saúda. A organização existe há mil anos e se destina a proteger o cristianismo puro, que teria sido levado à Europa por Maria Madalena e propagado por seus descendentes, filhos de Jesus.

Mas há também a Guilda dos Justos, irmandade que rejeita o cristianismo por acreditar que o verdadeiro messias fora João Batista, o primo de Jesus. A rivalidade entre os descendentes de ambos os profetas tem causado muito derramamento de sangue há dois milênios. E isso não vai parar, até que a verdade seja revelada.
Há quase oito séculos, por exemplo, mais de cem mil pessoas foram massacradas num ataque à cidade de Béziers, no coração de Languedoc. As vítimas eram cátaros, povo da linhagem de Cristo. Alguns sobreviveram e fugiram para outros países, mas ninguém sabe o que foi feito de sua maior relíquia, o Livro do Amor, escrito por Jesus.

Não é por acaso que todos os caminhos levam a Languedoc, outro mistério que Maureen precisa desvendar. Mas é inútil para ela buscar as respostas nos livros. Naquela região da França, certas histórias são eternizadas apenas pela tradição oral, através de segredos transmitidos de geração a geração. Para mergulhar com sucesso nesses mistérios, é preciso ser uma pessoa de fé, o que não é o caso de Maureen – ao menos por enquanto.

A verdade que se faz ouvir

Quando Maureen estiver pronta para descobrir e aceitar a verdade, ela saberá a dimensão exata da difamação que vitimara Madalena. E tomará conhecimento de que ela não foi a única personagem bíblica feminina a ter sido injustamente reduzida em sua importância histórica. Salomé, por exemplo, a princesa que supostamente vivia em incesto com seu padrasto, Herodes, e que teria usado sua sexualidade dissoluta para exigir a cabeça de João Batista numa bandeja de prata, foi, na verdade, uma heroína.

Cláudia Procula, mulher de Pôncio Pilatos, teve papel importantíssimo nos últimos dias de Jesus, mas ficou quase completamente de fora dos evangelhos. E mesmo Maria de Nazaré, merecedora de tanta devoção e respeito, tem uma história cuja grandiosidade vai muito além do que se imagina, pois sua vida não se resumiu à maternidade. Séculos de adulterações e traduções erradas dos textos bíblicos, Maureen descobrirá, fizeram bilhões de pessoas conduzirem suas vidas em função de uma história que não aconteceu exatamente do jeito como elas pensam que foi. O que está em jogo, portanto, tem proporções inimagináveis.


O livro é extenso, profundo e intrigante. Bem escrito, com o assunto minuciosamente pesquisado, ele muda completamente a história da bíblia que aprendemos na escola ou no catecismo.
Dá uma versão que nunca seria aceita pela igreja. Transforma Maria Madalena em uma figura importante na vida de Easa (Jesus) e não a prostituta que é descrita.
Judas não foi um traidor, João Batista era muito intransigente... Enfim, ler O Segredo do Anel desperta em nós algumas dúvidas recorrentes e... nos reporta à frase primeira da resenha do livro:
A história não é o que aconteceu. É o que foi escrito.
Vale a pena!!

Autora: Kathleen McGowan
Editora: Rocco

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